domingo, 28 de junho de 2009

Noite de estréia.

Todo grande artista fica nervoso em sua noite de estréia. É quando o ar fica tenso e rarefeito, e a gente parece que desaprende a respirar. A audição fica afiada, feito a peixeira do meu avô, açougueiro. O estômago balança para lá e para cá, querendo, em vão, se equilibrar. E a gente, pelo vão da porta fica de orelha baixa, tentando ouvir o burburinho da platéia. Aí, começa a andar. Anda em direção ao banheiro, muda de rumo feito vento, e vai para perto do sofá, e depois para perto do espelho, ajeita paletó, gravata, cinto, confere meias e comprimento das calças. Encara o sapato preto, lustrado, querendo se ver refletido - afinal o sapato é o espelho, com um bom lustre torna-se também refletor. E ficamos num nervosismo que só. Afinal, noite de estréia é tão chique que se chama début, só os franceses para achar um nome na medida certa dessa elegância toda. A gente sorri, a gente busca respirar enquanto nosso espírito e corpo se enche da tal adrenalina - parece o nome de prima velha que não se conhece pessoalmente, só por fama e boca de mãe. É assim. É frio, é quente, é tenso, é enjoativo e um pouquinho entorpecente. Um delírio. Aí de repente, você senta no sofá, nervoso (você e o sofá), encara seu ego, que tem medo de sair e se mostrar, de ser chamado de fraco, de encarar limites, de mostrar "olha, eu sou gente, gente de verdade", e diz relaxa criatura, aproveita, que esse tal de début é único, o segundo já não é a mesma coisa. Aí você entra, depois do terceiro sinal, e de súbito eu lembro que estou estreiando na escrita não num concerto e tudo é diferente, mais hilário, mais escondido, mais disfarçado e para piorar, eu ainda não sou grande e muito menos agora é noite... Ah, esse baixinho confuso!

Um comentário:

Analu Oliveira disse...

bem-vindo ao mundo das letras, xuxu! :)

e sapatos vc esta usando? rs