Caros amigos,
Quando faz frio toma-se um bom chá. Um bom chá, Twinings. Aquele disco de vinil, comprado no sebo, mais pelo charme que pela música. Do guarda-roupas abarrotado, por debaixo de edredons, retira-se um cobertor xadrez, presente de vó. No pé, a meia mais velha, mais aconchegante. Nos olhos um suspiro. A cabeça gira para lá e para cá. Mira toda a sala. Toda a sala à meia luz. Num canto uma poltrona. Noutro uma estante de livros. A caneca, o chá, a companhia. A espera de domingo, aos domingos sempre se espera. Faz sempre frio aos domingos. Domingo o dia é triste e frio. E não importa se há sol, não importa se há almoço em família, não importa se há cerveja e churrasco, ou jogo de futebol, é sempre frio. E quando o tempo fecha a cara, eu tomo meu chá, feito com cuidado, com método: a água quente esquenta a chaleira, esquenta a xícara. Então, a erva fina e perfumada, a água quente, nunca fervendo, sobre a erva, o tempo suficiente para que a erva destile sua história, libere seu segredo. Finalmente o chá posto na xícara. 
Ali, domingo ou não, quando o mundo é frio. Agarro a xícara, abraço a xícara com as duas mãos - quanta falta me faz, quanto espaço ao meu redor - bem apertadas, dobro os joelhos, recolho a perna sentado na poltrona, me escondo sob o cobertor, ouço a música e entre a pouca luz e a penumbra plena eu deixo meu espírito solto, predisposto à tristeza e ao tédio.
3 comentários:
eu não gosto de chá por isso, torna o momento sempre mais depressivo.
Bonito isso.Vamos fazer a irmandade do chá?
é exatamente isso. é isso que os domingos me causam. não é raiva, é tristeza. não é segunda que está por vir, é o próprio domingo a existir.
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