sábado, 9 de janeiro de 2010

Ano novo.

- Deus não dorme.

É meia-noite e cinquenta e seis. Passando na frente de uma igreja aberta, luzes acesas, uma oração entoada. Um gato empuleirado no muro. Um gato negro neurótico insulta-me. Seus olhos verdes contra os meus. A existência faz sentido.

- Não se pode dormir. Não se pode dormir mais, sozinho.
- Não posso também.

A chuva que não cai, não molha. O rádio ligado, uma música romântica. O brega, a fossa, o fracasso. O fracasso dos entorpecentes, dos calmantes, dos ansiolíticos.

- Não durmo porque deus não dorme.
- Não durmo porque você não dorme.

Não dormimos juntos, nem separados. Apenas não dormimos. O gato faz-me, com o olhar, um mimo. Enquanto eu caminho no sozinho da calçada de uma noite sem calmantes. A existência neurótica. Uma música brega entorpecendo meu fracasso. E enquanto não durmo, o gato me olha, deus me olha e eu insulto a igreja que passou.

- Olha o tempo que passa! Eu, eu não durmo para vê-lo passar.

Os cinquenta e seis minutos dessa meia-noite se fazem cinquenta e nove. Eu não existo, mas caço sentido. Eu neurótico não me acalmo. Eu pela noite, seco, deliro. E sei que tudo será diferente, pois será uma hora da madrugada em alguns segundos. Hora nova, vida nova. Penso.

Me tranquilizo. Dormirei. Com ou sem você.

Um comentário:

maria neusa guadalupe disse...

Feliz 2010 pra vc....beijos anonovinhos da maria neusa