- Deus não dorme.
É meia-noite e cinquenta e seis. Passando na frente de uma igreja aberta, luzes acesas, uma oração entoada. Um gato empuleirado no muro. Um gato negro neurótico insulta-me. Seus olhos verdes contra os meus. A existência faz sentido.
- Não se pode dormir. Não se pode dormir mais, sozinho.
- Não posso também.
A chuva que não cai, não molha. O rádio ligado, uma música romântica. O brega, a fossa, o fracasso. O fracasso dos entorpecentes, dos calmantes, dos ansiolíticos.
- Não durmo porque deus não dorme.
- Não durmo porque você não dorme.
Não dormimos juntos, nem separados. Apenas não dormimos. O gato faz-me, com o olhar, um mimo. Enquanto eu caminho no sozinho da calçada de uma noite sem calmantes. A existência neurótica. Uma música brega entorpecendo meu fracasso. E enquanto não durmo, o gato me olha, deus me olha e eu insulto a igreja que passou.
- Olha o tempo que passa! Eu, eu não durmo para vê-lo passar.
Os cinquenta e seis minutos dessa meia-noite se fazem cinquenta e nove. Eu não existo, mas caço sentido. Eu neurótico não me acalmo. Eu pela noite, seco, deliro. E sei que tudo será diferente, pois será uma hora da madrugada em alguns segundos. Hora nova, vida nova. Penso.
Me tranquilizo. Dormirei. Com ou sem você.
Um comentário:
Feliz 2010 pra vc....beijos anonovinhos da maria neusa
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