Boa noite, caro leitor,
Aos dezesseis anos, enquanto teimava com uma professora de literatura, teimava política, fui chamado de rebelde sem calça. Aos vinte recebi meu primeiro "mandato de citação" e minha primeira "antecipação de tutela" no Tribunal Federal de Justiça. Aos vinte e dois meu avô foi reeleito vereador em Três Corações pela sétima vez, mesmo sendo analfabeto, machista, corrupto e tendo fugido com outra mulher montado num cavalo branco, deixando para trás minha avó, louca e grávida de um filho, e minha mãe pequena. Aos quase vinte e três anos, reclamo bastante, sou bastante crítico, sou a favor das cotas para negros, a favor da criminalização mais severa de praticantes de homofobia, a favor da descriminalização do aborto, do uso incessante de camisinhas, da liberação das drogas, da música, do sexo, do prazer. Não acredito em deus, tampouco em leis, tampouco na bondade humana. E penso que a violência não deve ser combatida e sim entendida. Pensar é um ato de violência. Penso sempre que possível, mas assim como Valéry, cheguei à conclusão que sendo inteligente das cinco às sete da manhã, posso me permitir ser tolo o resto do dia. Infelizmente em geral, da cinco às sete da manhã estou dormindo.
Um dia me disseram: verba volant scripta manent. Eu respondi: the cut worm forgives the plow. Encontro-me entre gritos e sussuros e sempre me pergunto o que fazer. Há poucos meses de me formar sei quem sou, mas não o que quero ser. Duvido que queira viver muito, mas tampouco desejo morrer. Olho em busca de um olhar amigo, às vezes num relance miro e me enrosco num olhar cheio de amor, ou num olhar sensual, casual, efêmero. Sinto o gosto de sal na ponta da língua, o mesmo suor durante o estudo de piano, durante o sexo, durante a corrida na esteira. A vida é temperada sempre com muito sal, cabe a nós adoçá-la. A fumaça do cigarro faz meus olhos arderem. A fumaça do cigarro arde meu peito mas acalma meu coração cheio de ansiedades. Nem por isso fumo, só às vezes. Quando quero me precipitar num precipício, me enrosco na fumaça de um cigarro que não me deixa cair. Me enrosco em qualquer par de braços. Não sou promíscuo, apenas me refugio noutros. A corda é aquilo que fazemos dela, seja a forca, seja o cabo de segurança. Fumo às vezes, assim como às vezes amo. Bebo sempre, assim como sempre transo. Sou um metro e sessenta, bissexual e feliz. Mas padeço de melancolia. No fundo de meus olhos escondo a tristeza e desse verde sério faço meu charme. Entre mim e deus - que para mim não existe - moram a ansiedade, a paixão, o medo, a euforia, a dúvida, o esquecimento e uma parca satisfação, são eles meus canibais, os meu iguais, que me engolem e me digerem e fazem de mim alteridades.
No limite da garrafa de vinho, no limiar entre a taça e minha boca, de sopetão, num fôlego só, há alguns milímetros do líquido cor de vinho resolvo que não há nada mais bonito para um ser humano fazer do que se expor. Mas não é se expor e pronto. É se expor em segredo, cheio de lacunas, em traços incompletos que peçam à imaginação o complemento. Resolvo então, surpreendido pelo perfume do vinho, fazer desse espaço um diário, íntimo, meu caderno de pensamentos. Por isso, caros amigos, não percam tempo me julgando, pois estarei aberto ao abraço ou ao soco, tanto faz, apenas peço que seja de alma para alma. Pois estou enfastiado de gente desumana, como diria meu amigo Guimarães, o que existe é homem humano, e são eles que eu quero, são esses que eu amo.
8 comentários:
no coments for you, baby.
mas gostei dessa ideia de fazer textos de apresentação! hahahahaha
O mundo feminino perde um lindo par de olhos verdes! Oh, dó!
Não perde. Apenas compartilha.
Mas é que eu sou um tanto possessiva, e se compartilhar com um público já é difícil, imagina com dois!
Anônima! Identifique-se, assim você me acende de curiosidade!
Pode se identificar, pois eu não mordo. Quer dizer, não contra a vontade da pessoa!
gosto daqui. me tira do meu quarto bagunçado e me leva pra outros lugares quando estou triste.
gosto da ideia de ser compartilhado também. os mundos me compartilham.
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