quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Panis et Circensis IV

Ré lou (com sotaque baiano, molto cantabile)!
Lá rai (com sotaque nordestino mais do norte)!
Na cama, como na tonalidade tem sempre dominante

Ato IV - Sexo

Num quarto com cama, mesinha e camisinha.
A cama continua em estado de desordem. Não que nada em ordem fique, mas fixe-se num ponto qualquer e terá a impressão de pressão sobre sue corpo, mesmo não sendo seu corpus christie. Isso uns chamam política. Outros denominam ideologia. Esses são ora mortos-de-fome ou de fome-morta. Mas não há corrupção. Já na cama se não há corrupção, o que há então? O edredom fora do lugar, o lençol infértil fora do lugar, o travesseiro cheira o chão, e a cama cheira algo forte e estrondoso... Dirá que cheira... Cheira a...
... Gosto. Agosto foi um mês impressivo. Muito se imprimiu. Muito se riu, se lutou, relutou, eleitou, leu. O tempo é um hipócrita, safado, correu e não me avisou. Eu, devagar, tinha ficado para trás, mandando um e-mail, ouvindo Bethania e pensando em Gal... Gauleses. Gália - tão próxima, atrás da porta do banheiro, próxima do chão, de giz, giz de cera, giz de será. O cabelo molhado, de banho e de bagunça, anarquia, desordem, da cama. Não é fácil sair vencedor, não é fácil sair, inda mais se se entra de mau jeito, desengonçado, e fica preso, nas ferragens do ridículo acidente na Catalão em que o novo carro, último e de psico-masculiubiqüidade, de denominações técnicas Xana glx 2.0 fora arrebatado pelo já desgastado Picasso de motor fu(n)dido.
Morto de medo de meia de algodão. Morto de frio na noite e na contramão. De carteira assinada e carteira de motorista. Morto sem camisa e sem camisinha. Prostíbulos na Guaicurus - como se diz em:
- Tupy.
- Você ainda arranha?
- No momento só aranha... Eu?! Zébios., já não falo nada que passe perto de Tupy, desde que mademoiselle, la femme of le baron got away...
- Doutor Pangloss... Impressionante. Dedilha línguas como cordas do violão que se foi vender-se em terra intergaláctica.
- Não me tenha em tantas contas...
- Contas de matemática? Ou...
- Bolinhas. Miçangas. Ou, Missangras, como pediria a virgem de Stravinski.
- Somente um músico trifásico como óleo da Natura seria capaz de abstrair virgem tão simpática.
- Trifásico?! Neoclássico, diria.
- Do tipo Zezé di Camargo e Luciano?
- Em que se justifica. Por que de tal levantamento?
- Clássico seria Tonico e Tinoco... Eles, logo, são neoclássicos...
- Meu Deus?!
- O peixe...?
- Peixe não, Deus!
- O que quer de Deus?
- Saber o que eu fiz para merecer tal comentário...
- Sobre Zezé di Camargo?
- Não, sobre o Luciano...
- Ah, o Huck!
- Não! O Hulk, verde e forte...
- Como "orapronobis"...
- Como... Como quem? Quem eu como? Ah! Deixa disso... É!!!
- É o quê?! Flô?
- Era...
-... Uma vez, duas, até três, mas aí depende da moça...
- É!!! Era... Sobre o Zezé. O comentário. Ah! Você entendeu...
- Digamos que no tempo certo você vai ver.
- Era o que eu temia.
- Da última vez que conversamos, discutimos muito. Podíamos ser mais amigáveis...
- Você é guei?! Resolveu assumir?!
- Eu não sou guei!!!
- Então que conversinha é essa de ser amigável?
- É apenas função fática da linguagem.
- Sei. Função da linguagem... É um tal de língua pra lá, língua pra cá. E quem não come, é porque dá.
- Ou porque toma.
- Porra ou vinho?
- A porra do vinho...
- O porre de vinho...
-... Barato.
- Diabos!
- Mephistos!
- Oh! O senhor está muito cult.
- Como?
- Cult. Frequentador de Cine Belas-artes, de Pelicano, usa terninho azul tipo inglês com calça xadrez, adora Almodóvar, diz que ama Buñuel, mas nunca assistiu nenhum filme dele, tem seus poemas escritos, anda sempre com um livro da Florbela Espanca e se considera de estilo próprio...
- Estilo próprio é coisa de Emo...
- Demo, você quis dizer.
- Não, Emo... Aqueles garotinhos que pensam... Eu quero amar, amar perdidamente...
- Deus?! Meu fígado azeda só de pensar. Os peixes morrem afogados e não há mais aula de inglês.
- Bem. Flô. Convenhamos que você anda muito...
- Ansioso...
- Eu diria... Cheio de ânsias.
- Há... Deve ser o vinho barato.
- Ou a barata da vizinha.
- Barata. Na promoção. Bate na porta. Bate com a mão.
- Há não! Deixa dis...
- Ah!
- Como você sabia?
- Igual a você. São os espelhos...
Digamos que Narciso se olhasse hoje. E ouvisse um solo de fagote daqueles do tipo do senhor de cartola, cheirado e cheirando a perfume de maçã. O que você acha que ele faria?! Provavelmente choraria uma lágrima por um olho. E permitiria que seu brinco caísse, desaguasse sobre o chão como um grão de pérola. E o cachorro que protege o bandido iria esperar a comida. O cigarro que protege o amigo se apagaria. O presidente que protege o partido se reelegeria. E a nós só sobraria o reflexo de um narcisismo cínico e hipócrita como o tempo. Aquele rapaz que destrói tudo.
- Nós somos espelhos.
- Seria isso um fado?
- Como dizem o pessoal do supermercado... Quer que põe no fardo?
-...
- Ou no fado?
- Você andou estudando?
- Diria que andei me dando mais...
- Sabia que você era guei.
- Eu não sou guei!
- Mas deu.
- Me dei aos estudos.
-... Tem gosto pra tudo...
- Até para o vai e vem...
-... Do trem?
- Da cama em que a ama com cada mama de dama arma, desarma e mama na cama em que ama.
- Amor.
- Roma.
- Romã.
- Roma dos césares.
- ... Dos flautistas com tendinite?
- Gália dos Carlos...
-... Dos violinistas com tendinite?
- Ah!...
- Muito bem, agora o "ah" foi certo.
- Obrigado... Mas o que lhe fez?
- Sabe aquilo que se costumam chamar de cópula.
- Sexo?
- Diria que é amor.
- Amor... Amor é um obséquio.
- E sexo uma vasilha
- E filho não passa de uma melancia trazida pela cegonha...
- De bico fino e de perna grossa, de branco cinza e de asa torta.

Sem camisinha, envelopado, vai pintando o e-mail tarado.

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