domingo, 1 de agosto de 2010

O Tempo do Trinado [Um de Agosto]




Doce o som da novidade. Uma sonata de mozart segue uma canção dos Beatles. Assim é jogar ao acaso da sorte sua audição perdida em uma noite de domingo. Vai. Entre o direcionamento convicto da canção de língua inglesa. À sinuosidade de um segundo movimento bastante austríaco. O clima no reino é interrrompido por um terno eusébios que se põe a sonhar pelas mãos de Horowitz. A vida pode ser uma construção poética. A articulação que nos propomos engendrar só depende mesmo de nós. Seres [eternamente] entre alternativas. Assim. Um passo, um falso - quiçá um palco. Resta-me acompanhar um dançante Martin, numa constante rejection do que está certo como o português do poeta. Entre uma aguardente e um chá francês de maçã olhava morteiro o mar. Longe demais o horizonte dá linha ao mar - a pescar - que faz sombra na areia, enquanto passa um clarinte em duo num Messiaen. Enquanto passa um Jorge sambista. Enquanta passa Spice, Nelson e Girls. Assento meus ouvidos num belo noturno de Chopin. Resolvo fechar as malas que venho preparando conscienciosamente para São Paulo. Nela: um livro, um castelo branco, um Proust, um bloco de folhas alvas, o dvd de meu recital, o cd gravado e um branco, uma agenda da Pléiade, alguns lápis e uma caneta, minha música, minha ansiedade, alguma blusa de frio, uma expectativa, umas mensagens de amor e sexo a mais na caixa de entrada do celular, a lembrança de uma pianista. E dessa vez, o shuffle não funciona mais, continua o noturno de Chopin, assim como minha calma ansiedade. O tempo do trinado que escorrega feito melodia. Assim como uma música escorrega à outra. Assim feito frase de uma história que desliza página a página. Assim desfeito tempo, refeito novidade. A espectativa num arroubo de arpejos, num Saint-Saëns por Cortot. Fico com o trinado, altura incerta de onde pulo.

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